Você tem medo de aniquilar o seu ego?

Meu caminho na espiritualidade, pelo menos nessa encarnação, se iniciou quando eu tinha 5 anos, após assistir a um filme da paixão de Cristo que me deixou apaixonada por Jesus.

Eu me escondi atrás do sofá e fiz uma oração de joelhos no chão e lágrimas nos olhos. Eu falei com Jesus, pedi para ele me conduzir no caminho dele e descobrir como chegar até Deus.

Tenho muitas lembranças de infância de dormir de joelhos rezando, de falar com Deus em vários momentos do dia. A busca espiritual sempre esteve presente.

Por isso frequentei várias igrejas, fiz seminário bíblico interno, servi como missionária voluntária em tempo integral algumas vezes, etc.

Nessa estrada eu li de tudo na literatura cristã. Eu devorava livros e a Bíblia eu conhecia de forma íntima.

Até que, em uma fase da minha vida eu decidi me abrir para o estudo dos poderes da mente, isso me levou à Lei da Atração, Filosofia Hermética, Kabbalah, e outras ciências mais ocultas.

Também me apaixonei pela filosofia do Advaita Vedanta, a espiritualidade não-dual. Mergulhei em livros dos mestres indianos como Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj. Vieram também alguns mestres norte americanos como Robert Adams e Michael A. Singer.

Com uma visão mais contemporânea e mais próxima da nossa realidade, e usando linguagem do dia a dia, veio Eckhart Tolle, Rupert Spira, Mooji e Byron Katie.

São muitos os mestres que eu poderia citar aqui que têm uma base da espiritualidade não-dual muito parecida, mas o meu foco nesse artigo é falar da MORTE DO EGO!

Alguns desses mestres usando palavras um tanto “pesadas” quando se referem ao ego. Ramana Maharshi por exemplo, falava da necessidade de “matar” o ego, ele também usava termos como: incineração e aniquilação do ego.

Mesmo Eckhart Tolle, o mais contemporâneo de todos e possuindo uma abordagem um pouco mais “amigável” em relação ao ego, afirma que o ego é a fonte de toda a desgraça no mundo e por isso ele deve ser transcendido.

Em outras fontes, por exemplo, na própria psicologia, o ego não é visto de forma tão negativa. Ainda que essas outras fontes concordem que o ego realmente cria situações ruins no mundo, nem de longe elas concordam com a ideia de eliminação do ego.

Outras fontes dizem que o ego deve ser treinado, lapidado, melhorado e até mesmo fortalecido. Muitos dizem que o segredo é apenas melhorar o ego, mas será?

Esse contraste de ideias sobre o ego me deixou bem confusa durante um período da minha caminhada espiritual. Depois de ter estudado muitos conteúdos sobre o assunto eu cheguei à conclusão de que a ILUMINAÇÃO seria a solução para todo sofrimento humano.

Eu percebi que mesmo que eu manifeste absolutamente todos os meus desejos, ainda assim o sofrimento não teria fim, e nem os desejos, pois ao realizar um, automaticamente surgem outros dez e “ad infinitum”.

Mas com a iluminação tudo se resolveria, os problemas, o sofrimento, a dor dos desejos não realizados e qualquer tipo de medo.

Nas minhas pesquisas, estudando a vida dos iluminados, eu comecei a perceber características muito semelhantes entre eles, e de todas a que mais me chamou atenção foi o fato de eles estarem completamente livres do sofrimento.

Então comecei a perceber que sofrimento e ego são sinônimos. Que você não pode ter um sem ter o outro… foi quando eu entendi que a única coisa que me mantinha ligada ao ego era a crença de que o sofrimento é algo inevitável e que era uma característica normal da vida. Que não era possível evitá-lo, e pior, eu acreditava que o sofrimento era bonito e louvável.

Então comecei a pensar diferente. Pensei que se há pessoas iluminadas que vivem na Terra sem sofrer, eu também gostaria de ser uma delas, afinal, se era possível para elas, deveria ser possível para mim também.

Então me determinei que eu iria estudar o caminho que elas trilharam até chegarem a essa tal de iluminação. Esse se tornou o assunto mais quente dentro de mim, meus dias se consumiam estudando sobre iluminação.

Então um dia a ficha finalmente caiu… ou fica com o ego ou com a Felicidade.

Entendi que eu tinha que renunciar o meu ego, minha identificação com essa personagem e me render ao Todo, ao Absoluto.

Realmente, os mestres indianos estavam certos, o ego tinha que morrer!

Então comecei a tentar “matar meu ego” na marra. Comecei a negar meus desejos, a tentar rejeitar qualquer senso de individualidade e a tentar me anular em tudo, achando que assim eu estava “matando meu ego”.

A verdade é que eu não estava matando meu ego coisa nenhuma, eu estava apenas cultivando um outro tipo de ego, o ego espiritual. Eu havia criado para mim uma identidade de renunciante, de uma buscadora espiritual.

Depois de passar por muita dor interna e muita confusão mental, inclusive por 3 experiências com a Ayahuasca, da qual fiz uso com o propósito de chegar mais rápido à iluminação, eu finalmente entendi que, este não é um processo forçado, que não podemos simplesmente nos iluminar porque queremos.

É como o amadurecimento da fruta na árvore, como o desabrochar do botão de rosa, simplesmente acontece quando tem que acontecer, e acontece quando você está pronto, preparado.

Mas então e o meu desejo? E a minha busca por iluminação, nada disso valeu? A busca por iluminação é chamada de Atma Vichara, em sânscrito, segundo este caminho espiritual, só entra em Vichara quem foi alcançado pela graça, ou seja, aqueles que estão sendo preparados para a iluminação.

Sendo assim, eu já estava em Vichara, agora só me restava continuar meus estudos e meditações e deixar a ansiedade pela iluminação de lado.

A cada dia que passa eu me percebo mais e mais iluminada, abençoada e percebi meu entendimento se abrindo. Meu coração mais leve e minha vida mais feliz.

O sofrimento é algo muito raro para mim hoje em dia, quando percebo algo me afligindo eu rapidamente saio da tela e apenas observo minha personagem passando pelas marés das emoções humanas, porém não me envolvo, apenas fico em silêncio, testemunhando. Assim, essas marés passam muito mais rápido do que antes, que duravam horas e horas e até meses.

A iluminação espiritual é meu maior tesouro, a coisa mais preciosa da minha existência temporariamente humana. E por isso, percebo que posso fluir com a vida e ver todas as minhas necessidades supridas abundantemente. A vida é bonita, alegre e pacífica.

Artigo: May Andrade